Elegi suco de laranja servido em caixinhas como uma das piores invenções da história humana, tudo isto enquanto uma comissária de bordo o servia ao careca que estava numa cadeira duas fileiras na frente da minha. Atrevo dizer que isso só perderia para a bomba atômica e a pochete. Então pensei que eu estava salvo da calvície graças à mamãe, porque meu pai já não tinha cabelos aos vinte e oito.
Um pulo involuntário do assento prenunciou a chegada da turbulência, e, logo em seguida, o suco voando diretamente na cara do calvo, além da queda das aeromoças serventes, que agourou a intensidade da mesma.
Atenção senhores passageiros, por favor, afivelem os cintos de segurança. Estamos atravessando uma zona de chuva e turbulência.
Frustrei-me porque nem tive a oportunidade de pedir à morena bonita de fardinha (tentei imagina-lá sem calcinha, quando a vi caída no chão por causa da sacolejada) um refrigerante de guaraná.
Outro solavanco, desta vez bem mais forte. Algumas crianças começaram a chorar. Não sei se os prantos eram piores que a tensão de alguns sussurros que surgiam de cadeiras atrás da minha. Antes do medo, lembrei das aulas de biologia na sétima série, e daquele líquido responsável pelo senso de orientação, que fica dentro do nosso ouvido, no labirinto, ou alguma microestrutura do tipo. Antes do medo, a vertigem. A vertigem precede o medo, e aqueles segundos de pânico acomodavam minha filosofia barata, pensamento solto em momento de terror. Eu não queria pensar que eu não queria morrer, mas já estava pensando.
As máscaras de oxigênio caíram e eu ouvi um barulho, um apito, que não soube distinguir se era do avião ou do meu ouvido.
Minha mãe me salvou da calvície, mas poderia fazer absolutamente nada agora. As chances de a aeromoça morena ser a mulher da minha vida, algum dia, se reduziam a zero a cada minuto. Ao menos o careca não conseguiu beber aquele maldito suco de laranja.
WTF, Charlie Brown!
Há uma semana