terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sobre duas primas

Aos 17 anos e em ocasião do tradicional festival Sete Sóis Sete Luas, a mãe de Amália conheceu o marido, herdeiro lisboeta de um influente comércio têxtil, e em menos de seis meses casaram-se na capital portuguesa, fazendo-a sua morada. Um ano após o matrimônio, nascia a primeira e única filha do casal Basurto. Por sua vez, Mafalda foi concebida durante o mesmo festival Sete Sóis Sete Luas, o que obrigou o casamento quase imediato entre seus pais. Do parto difícil, veio a menina e a impossibilidade de outros rebentos.

Mafalda Carrasqueira e Amália Basurto eram primas, e suas mães, irmãs. As suas raízes remontam a vila de Azinhaga, onde os pais, avós e ascendentes mais distantes subsistiam da agricultura. A primeira foi criada no campo, enquanto a outra cresceu na cidade.

No período das férias escolares ou mesmo nos feriados nacionais, numa tentativa de resgatar e tornar vivas as origens do tronco familiar materno, os pais de Amália achavam de bom investimento sempre despachá-la para Azinhaga. Entretanto, a simplicidade da vida campesina expressa por meio da ignorância de sua gente, do escasso uso da eletricidade, do amontoado de mosquitos, dos cheiros naturais dos animais e das próprias pessoas, geraram desde a mais tenra idade sentimentos de animosidade em Amália. Além do mais, esta, que em Lisboa possuía uma cama só para si, quando ia à pequena vila era forçada a dividir o leito estreito e duro com Mafalda. A troca de alguns chutes e cotoveladas precediam a dormida, a qual, ironicamente, era regida e abençoada por João-Pestana.
A birra, muito mais teatral do que verdadeira, sempre a acompanhava apenas durante os primeiros dias no campo. Ao final da sua estada, contudo, poder-se-ia dizer que Amália sentia certo pesar em deixar a casa dos tios e a cama da prima, apesar de jamais expressar verbalmente tal sentimento.

Em 1978, Mafalda Carrasqueira se casou com o agricultor João Sousa, que viria a ser seu companheiro para a vida toda. Em 1980, Amália Basurto se casou com Pedro Delgado. Em 1986, com Antônio Duarte. 1989, Luís Cardozo. 1994, José Pereira. 2002, Nuno Paredes. 2003, João Torres. 2007, Fernando Gomes. Aos amantes, a lista não compete.

Quando questionada a respeito dos seus casamentos fracassados em série e dos inúmeros casos extraconjugais, Amália sempre respondia que jamais conseguiria deitar e dormir sozinha, mas que nenhuma das companhias masculinas, até então, lhe agradara.

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